Portugal celebra 50 anos da Revolução dos Cravos, que pôs fim à ditadura fascista

Milhares de pessoas saem às ruas para comemorar, nesta quinta-feira (25), os 50 anos da “Revolução dos Cravos” em Portugal, que derrubou a mais longa ditadura fascista da Europa e inaugurou a democracia no país.

António de Oliveira Salazar governou Portugal de 1932 a 1968, mas o regime durou mais seis anos sob o sucessor Marcelo Caetano, apenas entrando em colapso em 25 de abril de 1974.

A revolução quase sem derramamento de sangue foi liderada por um grupo de oficiais subalternos do Exército que queriam a democracia e acabar com as guerras de longa duração contra os movimentos de independência nas colónias africanas de Angola, Moçambique e Guiné-Bissau.

Consideravam estas guerras, que mataram milhares de jovens recrutas portugueses, como injustas e invencíveis.

O golpe militar do grupo “Capitães de Abril” desencadeou uma rápida descolonização, pondo fim a mais de cinco séculos de império português em África.

O cientista político da Universidade de Lisboa, António Costa Pinto, disse que embora a maioria do povo português apoie a democracia e tenha orgulho da revolução de 25 de abril, haveria “um elefante na sala” nas comemorações deste ano com o recente aumento do apoio ao populista e anti-imigração Partido Chega.

“O Chega atrai quem tem uma visão revisionista da história com a ideia de que o colonialismo e o império não foram maus e que o glorioso passado português e os seus símbolos devem ser valorizados”, disse Costa Pinto.

Um estudo publicado pelo Instituto de Ciências Sociais de Lisboa (ICS) e pelo Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE) concluiu que 23% dos inquiridos consideravam que se os atuais líderes políticos seguissem os “ideais” de Salazar, Portugal poderia “recuperar a sua grandeza”.

O Chega faz frequente uso público do lema de Salazar “Deus, patriotismo e família”, ao qual o partido acrescentou “trabalho”.

O líder do Chega, André Ventura, negou que ele ou o seu partido sejam fascistas, apesar de serem anti-sistema e quererem mudar a Constituição de Portugal.

André Ventura, líder do partido português Chega/CHEGA TV

“Não sou fascista, nasci depois do fascismo. Nunca escondemos que não gostamos deste sistema, desta Constituição. Mas isso não significa que não gostemos da democracia”, disse ele em 2021.

Fundado em 2019, o Chega é o terceiro maior partido do Estado-membro da União Europeia, tendo quadruplicado o seu grupo de legisladores para 50 nas eleições de março.

O Chega capitalizou a crise imobiliária desencadeada pelo aumento constante das rendas, bem como pelos baixos salários, pela queda nos cuidados de saúde e pelos casos de alegada corrupção envolvendo os principais partidos do país mais pobre da Europa Ocidental.

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