duas sessões o que esperar reuniões China 2024 14ª Assembleia Popular Nacional Março

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A China atendeu às expectativas ao fixar sua meta de crescimento em torno de 5% e sinalizar a possibilidade de aumentar a liquidez do mercado (Foto: glaborde7/ Pixabay)

Esta semana, o Congresso Nacional Popular em China serviu de palco para a gestão do presidente Xi Jinping delinear as suas estratégias para o avanço económico do país em 2024.

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No final das contas, a assembleia é uma oportunidade para os líderes chineses redefinirem a narrativa sobre a economia do país, que enfrenta desafios significativos.

A China correspondeu às expectativas ao fixar a sua meta de crescimento em cerca de 5% e sinalizar a possibilidade de aumentar a liquidez do mercado.

Este objectivo, apesar de ambicioso, reflecte a continuidade em relação ao ano anterior, postulando novas medidas de estímulo ao crescimento.

Dados os obstáculos enfrentados pelo setor imobiliário e a redução do consumo interno, especulou-se uma meta de crescimento mais conservadora, em torno de 4,5%, o que indicaria um pacote de estímulos mais contido, potencialmente frustrando as expectativas do mercado.

Isso, no entanto, não foi confirmado.

A atenção também é dirigida à previsão do défice fiscal. Com a recuperação económica da China a revelar-se desigual – avanços na produção industrial, mas contracção no consumo interno – poderá haver necessidade de expandir o estímulo fiscal e imobiliário, especialmente se a procura externa diminuir.

No que diz respeito à política monetária, a atenção aos detalhes será essencial, exigindo uma avaliação meticulosa para identificar possíveis mudanças futuras.

Há expectativa de inclinação para medidas mais flexíveis, embora a postura oficial ainda seja cautelosa.

Este ano promete trazer uma abordagem modificada face ao anterior, que se centrou exclusivamente no “crescimento económico nominal”, sem colocar ênfase específica nos índices de preços.

Pan Gongsheng, líder do Banco Popular da China, sinalizou a possibilidade de reduzir as taxas de reservas obrigatórias dos bancos, permitindo também que as instituições financeiras mantenham reservas menores e incentivem o crédito.

Ao mesmo tempo, Zheng Shanjie, da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, expressou um optimismo cauteloso, considerando a meta de crescimento do PIB como alcançável com esforço e dedicação.

Estas perspetivas surgem num momento de ceticismo relativamente à ambiciosa meta de crescimento, exacerbado pela impressão de falta de apoio político consistente, suscitando preocupações sobre a perpetuação desta dinâmica.

Frases como “novas forças produtivas” e “crescimento de alta qualidade” destacam áreas-alvo para o investimento governamental, especialmente em sectores inovadores como veículos eléctricos, baterias e energias renováveis, embora isto possa acentuar questões de superprodução e intensificar as tensões comerciais, especialmente com países ocidentais.

Este interesse renovado em sectores inovadores surge num momento em que a economia chinesa, após décadas de rápida expansão, enfrenta um abrandamento acentuado.

Esta fase é representada por uma profunda crise habitacional, pressões deflacionistas e um aumento do desemprego, especialmente entre os jovens.

De 1980 a 2022, a China viu o seu PIB per capita em relação aos Estados Unidos crescer de 2% para 28%, reflectindo o seu rápido progresso industrial e o seu sucesso nas exportações.

Hoje, porém, o crescimento do PIB da China dá sinais de abrandamento, a atracção de investimento estrangeiro abranda de forma preocupante e o mercado accionista sofre uma perda significativa de valor, ultrapassando os 6 biliões de dólares.

Naturalmente, o actual abrandamento tem repercussões globais, impactando a procura global de produtos e serviços e reduzindo os investimentos chineses no estrangeiro, afectando tudo, desde projectos de infra-estruturas em África até aos portos europeus.

As multinacionais, que dependiam do mercado chinês como vetor de crescimento, enfrentam agora desafios consideráveis.

Para piorar a situação, apesar dos relatórios oficiais indicarem um crescimento económico de 5,2% em 2023, persistem dúvidas sobre a veracidade destes dados, sugerindo a possibilidade de terem sido sobrestimados pelas autoridades locais.

Tanto é assim que, nos círculos políticos de Washington, se debate a ideia de que a China pode ter atingido o seu ponto máximo de desenvolvimento, uma conjectura que reforçaria o estatuto dos Estados Unidos como líder global.

Contudo, o abrandamento económico da China não se traduz necessariamente num declínio da sua influência geopolítica.

A China continua a demonstrar a sua força industrial, superando o consumo de eletricidade dos Estados Unidos desde 2010, o que evidencia a força da sua base industrial.

O seu crescente poder económico na Ásia e no Pacífico, em grande parte impulsionado pela Iniciativa Cinturão e Rota, eleva a sua influência regional acima da da América do Norte. Além disso, o país expandiu a sua presença militar na Ásia-Pacífico, diversificando-se das áreas de foco dos Estados Unidos.

A China também se destaca no cenário das tecnologias sustentáveis, liderando a produção de turbinas eólicas, painéis solares e veículos elétricos, posicionando-se como uma força determinante para o futuro da energia verde global.

Apesar dos obstáculos económicos, a estatura geopolítica da China e o seu papel de liderança na transição para tecnologias verdes continuam numa trajetória ascendente.

Portanto, num contexto global marcado pela incerteza e pela volatilidade, seria precipitado concluir que a China já atingiu o seu pico. Para Xi Jinping, o desafio iminente é garantir que as dificuldades económicas não desencadeiem uma agitação generalizada entre os cidadãos.

As estratégias recentemente anunciadas pelo governo chinês, queiramos ou não, indicam avanços importantes, notadamente o aumento dos investimentos militares, que hoje ocupam uma proporção maior da economia.

A estratégia adoptada reflecte também o compromisso do Presidente Xi Jinping em garantir que as forças militares, orientadas directamente pelo Partido Comunista em detrimento da gestão civil, estejam preparadas para possíveis confrontos.

Como resultado, o orçamento da defesa aumentará 7,2% este ano, atingindo 232 mil milhões de dólares — o aumento mais significativo observado nos últimos cinco anos.

Ao mesmo tempo, haverá um investimento considerável em tecnologia, com o governo a aumentar as contribuições para a investigação científica e o desenvolvimento tecnológico em 10%, atingindo um montante de 51,5 mil milhões de dólares em 2024.

Este investimento sinaliza o interesse da China em posicionar-se na vanguarda das inovações tecnológicas.

Estes movimentos ilustram a forma como Xi Jinping lidera o país, seguindo uma visão cada vez mais proativa.

Perante este cenário, para o governo chinês, é crucial intensificar iniciativas para atualizar a sua infraestrutura industrial e incentivar o surgimento de novas dinâmicas produtivas, com o objetivo de superar a letargia económica que tem caracterizado modelos económicos semelhantes na Ásia.

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