Samba se destaca em desfile do Morro da Casa Verde sobre a luta feminina pela liberdade

Por Lucas Sampaio e fotos de Fábio Martins

O Morro da Casa Verde realizou na noite de sábado seu desfile no Sambódromo do Anhembi. O samba da escola interpretado por Wantuir foi o grande destaque da apresentação, que teve constantes problemas de evolução. A Verde e Rosa da Zona Norte foi a décima escola a se apresentar pelo Grupo de Acesso 2, fechando os portões aos 49 minutos.

Comissão de Frente

A comissão de frente intitulada “A Força das Yabás sobre a Figura Feminina” se apresentou em dois atos marcados pelo samba. Há a presença de uma protagonista que contracena com dois diferentes grupos, sendo o primeiro representando as Yabás e o segundo a Figura Feminina. Os grupos se intercalam em interações com a protagonista ao longo dos atos, se juntando na dança em dado momento.

A coreografia chama atenção pela volumetria das fantasias, que dão a sensação de que a pista está preenchida de pessoas ao longo da apresentação do conjunto. Mas a dança não é clara em seu propósito em vários momentos, com exceção em situação onde os demais atores reverenciam à figura da protagonista. O final do segundo ato, onde um dos agrupamentos se alinha para reiniciar a dança, se mostrou problemático ao longo da Avenida, com a atriz principal se adiantando em relação aos demais no primeiro módulo, mas ficando para trás nos demais.

Mestre-sala e Porta-bandeira

O primeiro casal do Morro, formado por Gabriel e Juliana Souza, desfilou com fantasias representando “Orum Ayê”. A atuação ao longo de todos os módulos apresentou problemas de sincronia nos giros, sendo no primeiro e no terceiro módulo a porta-bandeira por várias vezes concluiu seus passos após o mestre-sala parar. A clara desatenção da parte da dupla pode comprometer a nota final da escola.

Enredo

O enredo da escola da Casa Verde em 2024 foi “O canto de Ominirá: Negra é a raiz da liberdade!”, assinado pelo carnavalesco Ulisses Bara. A proposta do Morro foi falar sobre a necessidade de exaltar e preservar a cultura e o nome e mulheres pretas que lutaram por sua liberdade e deram suas vidas por seu povo. “Ominirá”, na língua yorubá, significa “independência, liberdade”, o clamor que o tema da Verde e Rosa faz pelas mulheres pretas batalhadoras de todo o mundo.

Na Avenida, porém, a leitura do enredo se mostrou confusa pelas alas, com poucos segmentos sendo identificados com facilidade. O enredo não conseguiu ser claro em sua proposta após a passagem do Abre-alas, gerando um declínio de reação até seu desfecho.

Alegorias

O Morro se apresentou com dois carros alegóricos. O Abre-alas foi nomeado como “As Sete Deusas Sagradas – O Berço de Ominirá”, e o segundo carro foi intitulado “A Coroação da Mulher – A Nossa Voz Jamais se Calará – Viva Ominirá!”. A primeira alegoria chamou atenção pelo belo acabamento como um todo e clareza na identificação de seus elementos, em especial as figuras das entidades representadas. O desfile se encerrou com um carro, porém, cujas esculturas não esclareciam sua proposta de representar uma coroação. Havia um grupo cênico em uma estrutura muito elevada o qual do campo de visão observado não estava claro o significado de sua atuação.

Fantasias

O Morro da Casa Verde desfilou com alas em referência a diferentes mulheres pretas cujos nomes marcaram a história pela luta e superação. As fantasias apresentaram um bom conjunto de acabamento, porém eram de difícil leitura em sua maioria. Haviam conjuntos de fácil identificação, como a ala “Anastácia e a Máscara do Silêncio”, mas em geral é preciso grande conhecimento da temática abordada para elucidar o significado das roupas.

Harmonia

O coral do Morro começou o desfile animado e vigoroso, mas a lentidão com a qual a escola evoluiu na pista fez com o que o clamor do samba pela comunidade da Casa Verde fosse comprometido. Em dado momento, já na reta final do desfile, com o ritmo acelerado da escola para não estourar o tempo e após um considerável tempo sem tentar apagões, os componentes das alas demoraram a responder gerando um instante de silêncio que comprometeu o andamento do samba.

Samba-enredo

O samba do Morro da Casa Verde foi composto por Sidney Arruda, André Ricardo, Rubens Gordinho, Thiago SP, Douglas Chocolate, Ulisses Sousa, Jacopetti, Nega e Celsinho Mody, e foi defendido na Avenida pela ala musical liderada pelo consagrado intérprete Wantuir. Considerado um dos melhores sambas do ano de 2024 em São Paulo, a obra se apresentou de maneira correra ao longo de boa parte do desfile, com o início da escola sendo o grande destaque aliado ao bom desempenho inicial da harmonia da escola.

Evolução

­O quesito que mais causou problemas ao Morro da Casa Verde. O início vagaroso do desfile da escola comprometeu o andamento como um todo, e em dados momentos notou-se interrupções no fluxo do cortejo da escola. O receio de não fechar os portões no tempo máximo regulamentar fez com que a escola passasse a acelerar o passo, comprometendo consideravelmente a compactação das alas entre os módulos três e quatro.

Outros Destaques

As baianas do Morro da Casa Verde vieram representando “A Realeza Ancestral”, se destacando dentre o conjunto visual da escola. A Rainha Bruna Costa deu o tom do ritmo da “Bateria do Morro”, comandada pelo mestre Fábio Américo. Os ritmistas da Verde e Rosa apresentaram um bom conjunto de bossas, que animaram o público ao longo da apresentação da escola.



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