Preocupado com ano eleitoral, Ricardo Nunes procurou sua base pelo fim da CPI contra Julio Lancellotti


Nos últimos dias, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) procurou vereadores da base de seu governo para tentar frear a abertura da CPI das ONGs, que investigará o padre Julio Lancellotti, o Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto e o coletivo A Craco Resiste, segundo o vereador Rubinho Nunes (União), autor do requerimento para a criação da comissão.

A informação foi confirmada ao Brasil de Fato por parlamentares da oposição, como Celso Giannazi (PSOL). “Conversei com alguns colegas aqui da Câmara e me contaram que o prefeito está conversando com sua base, ligando para alguns vereadores e tentando impedir que a CPI avance.”

Um dos governistas mais aguerridos é justamente o autor do pedido de criação da CPI, Rubinho Nunes, que tem sido irredutível sobre a criação da comissão, mas recuou nos ataques ao padre Julio.

Aos aliados de sua base, o prefeito tem dito que é a favor da abertura da CPI e que a “atuação das ONGs seja apurada”, mas quer que ela não personalize sua atuação, muito menos na figura do padre Lancellotti.

Internamente, o impasse sobre a CPI é tratado como o primeiro embate entre o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) e Ricardo Nunes, que concorrerão ao cargo de prefeito de São Paulo nas eleições deste ano.

Isso porque Rubinho Nunes tenta associar o trabalho da Craco Resiste e de Julio Lancellotti a Boulos. Ciente da popularidade do padre na cidade e da má repercussão de uma possível investigação, o prefeito pode forçar sua base a recuar.

‘Saiu pela culatra’

A situação deixou Nunes diante de um impasse. Negociar o fim da CPI significa admitir publicamente a primeira derrota de sua base na Câmara dos Vereadores para a esquerda, ainda no primeiro mês do ano eleitoral.

Para a vereadora Elaine Mineiro (PSOL), a CPI será derrubada. “Não há um objetivo. Certamente isso será levado ao Colégio de Líderes na volta do recesso parlamentar e nossa expectativa é que a comissão não seja instalada”, explicou a parlamentar.

Para Giannazi a criação da CPI “foi um tiro que saiu pela culatra, com enorme repercussão negativa na mídia e com a população. O Rubinho fará Ricardo Nunes sofrer sua primeira derrota neste ano, pois vamos usar nossos instrumentos para não instalar a CPI.”

O prefeito mostra disposição em fazer com que o assunto seja rapidamente esquecido e superado. Na última quarta-feira (10), recebeu o padre Julio Lancellotti na sede da Prefeitura, na região central de São Paulo, para uma reunião.

“O prefeito disse que pode prestar os esclarecimentos de que não sou de uma ONG, não recebo recursos, que isso é uma coisa de domínio público e que se a prefeitura for arguida nesse sentido, responderá isso mesmo: ‘nós não temos nenhum convênio com a Arquidiocese de São Paulo, nem com a Pastoral de Rua, nem com nenhuma entidade que o padre Júlio faça parte'”, afirmou Lancellotti, em entrevista à CNN.

O Brasil de Fato procurou a assessoria de imprensa da Prefeitura de São Paulo, que preferiu não comentar sobre as conversas de Ricardo Nunes com sua base.

Edição: Nicolau Soares






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