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De olho em alianças eleitorais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem feito, nos últimos anos, movimentos com políticos que eram críticos ao PT.

Foi o que aconteceu, por exemplo, com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) para a eleição de 2022 e o ex-governador paulista Paulo Maluf (PP) em 2012. O episódio mais recente é com a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy (sem partido).

Ela foi convidada por Lula para voltar ao PT — de onde saiu em 2015, após 33 anos no partido, fazendo críticas — para ser vice na chapa do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), pré-candidato a prefeito de São Paulo.

Esses movimentos de “expressam um pragmatismo já conhecido e a sua aposta no ‘fazer política””, disse à CNN o cientista político Rafael Cortez, professor do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP). “Sobretudo quando essa política é feita com o presidente Lula no governo, que aumentam o poder de atração dessa aliança e o seu peso no jogo político”.

Para o cientista político Claudio Couto, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), os três casos em que o presidente procurou o apoio de críticos ao PT são diferentes entre si:

  • Maluf seria o “ganho de apoio de um partido”,
  • Alckmin, a “sinalização de amplitude”,
  • Marta poderia ser definida como “ter na chapa uma candidatura que tem apelo a uma certa parcela do eleitorado”.

Marta Suplicy

Rui Falcão, o presidente Lula e Marta Suplicy / 08/01/2024 – Reprodução/Instagram/RuiFalcao13

Após 33 anos no PT, Marta deixou o partido em 2015 dizendo que “não tem como conviver com os escândalos de corrupção” e reclamava de estar “isolada”. Ela também disse que “o PT traiu os brasileiros” e que “se sentiu traída” pela sigla. Na época, as investigações da Operação Lava Jato estavam no auge, e tinham o PT como um dos principais alvos.

Já como adversária do PT, em 2016, ela disse que Fernando Haddad (PT) era o “pior prefeito que São Paulo já teve”. Na época, ela disputou a eleição municipal na capital paulista pelo MDB.

Neste ano, Lula teve um encontro com Marta e a convidou para voltar ao partido, o que gerou críticas em alas do PT por conta das posições dela nos últimos anos, segundo apuração da CNN. Haddad, um dos alvos de críticas, por sua vez, sinalizou não ver problemas com o retorno de Marta ao partido.

O incômodo entre petistas, “depois de todos os enfrentamentos que ela teve com o partido”, pode ser o principal ponto a ser enfrentado pela reaproximação de Marta com PT e Lula, na opinião de Couto. Ele também avalia que a entrada da ex-prefeita na campanha de Boulos não deve atrair o eleitorado de centro ou que está mais à direita por sua imagem ainda estar muito associada ao PT.

Ir até Marta ainda mostra que Lula sabe da importância que tem o maior colégio eleitoral do país e os desafios de Boulos para entrar no eleitorado de renda mais baixa, na avaliação de Cortez. “A Marta vem justamente para tentar fazer com que o Boulos expanda esse eleitorado mais nichado que ele teve, sobretudo pensando no segundo turno”.

Paulo Maluf

29 out. 2013 -Luiz Inácio Lula da Silva (costas) é abraçado pelo deputado Paulo Maluf (PP-SP) após receber a medalha “Suprema Distinção”, no plenário da Câmara dos Deputados / ANDRE DUSEK/ESTADÃO CONTEÚDO

Em 2012, ao lado de Lula, Maluf anunciou o apoio de seu partido, o Progressistas, à chapa de Fernando Haddad (PT), que disputava a Prefeitura de São Paulo e acabou eleito na ocasião.

Os dois foram adversários na eleição presidencial de 1989, a primeira com participação popular após a ditadura militar. Maluf era candidato pelo PDS, antigo Arena, partido dos militares, e Lula concorria pelo PT, recente expoente da esquerda brasileira.

Em 1993, nas vésperas da eleição presidencial, Maluf disse que “quem votar em Lula vai cometer suicídio administrativo”. Em 1994, Lula afirmava que Maluf era “o símbolo da pouca vergonha nacional”.

Segundo Claudio Couto, o apoio de Maluf para Haddad não teve relação específica com sua “pessoa física”, mas com a questão partidária, a partir da soma de tempo de televisão para a propaganda eleitoral gratuita.

“Então acho que essa era a intenção ali e o vamos dizer o preço a se pagar foi aparecer ao lado do Maluf, que foi inclusive uma exigência que ele fez para aquele apoio acontecer”, explica, citando as fotos do encontro entre Maluf, Lula e Haddad.

Lula e Haddad foram até a residência de Maluf (à direita) para pedir apoio na eleição municipal de São Paulo em 2012 / 18/06/2012 – Epitácio Pessoa/Estadão Conteúdo

Geraldo Alckmin

Vice de Lula nas eleições de 2022, Alckmin foi um grande antagonista do presidente e do PT, principalmente durante seus quatro mandatos como governador de São Paulo.

Em 2006, os dois protagonizaram o pleito à Presidência da República, indo até a disputa pelo segundo turno, quando a troca de ataques entre ambos se intensificou.

Mais recentemente, em 2017, Alckmin disse que Lula, “depois de ter quebrado o Brasil”, queria “voltar ao poder”, “voltar à cena do crime”. O ex-tucano também chamava Lula de “preso condenado por corrupção”, na época em que Lula ficou detido em Curitiba.

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e vice-presidente e ministro do MDIC, Geraldo Alckmin / 07/09/2023 REUTERS/Ueslei Marcelino

A união de Lula com um adversário político histórico pode ser explicada pela questão da “frente ampla”, devido ao enfrentamento com Jair Bolsonaro (PL) no último pleito presidencial, observa Couto.

Durante um discurso de campanha em 2022, Lula disse à presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que o governo não seria da sigla, mas sim de um grupo amplo. Para o cientista político isso não foi dito “à toa” pelo então candidato.

Na opinião de Cortez, administrar alianças amplas, que envolvam partidos que por muitas vezes foram oposicionistas do PT, pode ser complicado. Nesse contexto, seria necessário se abrir para antagonistas a fim da governabilidade. Isso pode ser observado, por exemplo, no plano federal durante a formação da composição ministerial, na liberação de emendas, entre outros pontos.



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